A MINHA GUERRA ?????

 

Por: Ex-Furriel Miliciano

Ramiro Daniel Pedrosa Viegas

 

No dia 08 de Julho de 1968, fui à inspecção médica da Junta de Recrutamento, tendo sido aprovado para todo o serviço militar.

No dia 08 de Janeiro de 1969, sou incorporado no exército, no C.I.S.M.I. em Tavira. Nesta mesma Unidade Militar C.I.S.M.I. fiz a recruta que teve um período de três meses, terminada a recruta, permaneci na mesma Unidade para fazer a Especialidade de “Sapador” até final do mês de Julho de 1969.

 

No final de Julho de 1969, fui transferido para a Escola Prática de Engenharia em Tancos, para frequentar uma Especialização de “Minas e Armadilhas”, onde permaneci até 06 de Setembro de 1969. Após a frequência desta Especialidade, fui transferido para o Regimento de Infantaria de Bragança.

 

A 7 de Janeiro de 1970, vindo do Regimento de Infantaria de Bragança, fui destacado para o RI 1 (Regimento de Infantaria 1) na Amadora para aí ser integrado no Batalhão de Caçadores 2904. Este, era constituído por quatro Companhias, C.C.S. (Companhia de Comando e Serviços), pelas Companhias de Caçadores, C.CAÇ. 2655, C.CAÇ. 2656 e C.CAÇ. 2657.

 

Permanecemos neste quartel, sempre numa incerteza, relativamente à data em que partíamos. Ora estávamos mobilizados para a Guiné, desmobilizando-se o Batalhão de seguida ora, estávamos mobilizados para Moçambique, desmobilizando-se mais uma vez o Batalhão até que, finalmente veio a ordem de mobilização para a Região Militar de Angola.

 

Em virtude das constantes alterações de mobilização e desmobilização, estando tão perto de casa não tinha a oportunidade de vir ver os meus pais, irmãos, namorada, amigos, enfim despedir-me destes, talvez até breve ou de um “ADEUS” definitivo.

 

Pela primeira vez, ultrapassei as normas regulamentares pois, a partir do momento em que soubéssemos a data de embarque, as saídas do quartel para visitas a casa terminavam. O nosso espólio individual já se encontrava há muito tempo encaixotado e identificado, somente ficávamos com o mínimo indispensável para o dia a dia, relativamente a este espólio. Com o pensamento negativo de “não mais regressar” enchi-me de coragem e zarpei do quartel, na gíria militar “Desenfiei-me”, saindo por uma zona que os soldados habitualmente utilizavam para sair do quartel. Permaneci em casa nos dias 16 e 17 de Fevereiro. Na madrugada do dia 18 de Fevereiro de 1970, o meu irmão Francisco foi levar-me ao quartel na Amadora. Eram oito horas da manhã quando ali cheguei, pelo local de saída foi por onde entrei. Já havia um grande movimento quer de viaturas quer dos camaradas no transporte do seu espólio individual para junto dos locais definidos para cada Companhia para colocar nas viaturas e entrarmos nestas com destino à Rocha Conde de Óbidos em Lisboa.

 

O trajecto entre o R.I. 1 (Regimento de Infantaria 1)  Amadora e a Rocha Conde de Óbidos foi relativamente rápido. Encontrava-se atracado ao cais um navio da Companhia Colonial de Navegação de nome “UIGE”, as rampas de acesso ao navio, encontravam-se abertas e disponíveis. À medida que íamos saindo das viaturas, apesar de não termos autorização para nos aproximarmos dos familiares que ali se encontravam para dizer o seu adeus, alguns, ousaram romper contra estas regras e aproximavam-se dos seus familiares na sua despedida.

 

Eu, porque tinha pedido aos meus familiares que não cria que comparecessem, subi a rampa de acesso, dirigindo-me ao camarote que me estava destinado onde fui depositar o meu espólio individual. Após deixar a respectiva bagagem, subi para o convés e, fui sentar-me bem lá no alto, junto de uma baleeira.

Recordo-me de ver os familiares, e amigos de outros camaradas na Rocha Conde de Óbidos, limitados por um gradeamento ali colocado para que o contacto com os seus familiares não fosse possível, choravam, gritavam pelos nomes num pranto de desespero e incerteza, acenavam lenços brancos, cada um expressava o desgosto como sentimento diferenciado. Era aquela vivência que eu não queria viver naquele momento por isso, não estava nenhum familiar mas, ao ver toda aquela angústia das famílias fiquei mais carregado de dúvidas e incertezas, tanta coisa se passava rapidamente pela minha cabeça interrogando-me,” Porque não fugi à tropa quando tinha quinze anos, quando o meu irmão Jorge com dezassete anos resolveu fugir para França que, até me aliciou a fazer” não o fiz porque, estava convencido que quando chegasse o momento de ir para a tropa a “Guerra já tinha terminado” enganei-me.

Pensativo assistindo a toda aquela incerteza que pairava nos familiares que ali aguardavam pelo desatracar do navio, continuei junto à baleeira. Após retirarem as rampas de acesso ao “UIGE”, já se encontravam três rebocadores amarrados ao barco para procederem à manobra de desatracar do navio um encontrava-se à ré, rebocando a ré do navio para fora, afastando este do cais, o segundo, estava amarrado à proa, rebocando o navio, afastando a proa do cais, quando o navio chegou ao meio do rio Tejo, os rebocadores da ré e da proa destinados a fazer a manobra de afastamento do navio do cais, desligaram a sua ligação ao “UIGE” iniciando-se, através do terceiro rebocador, a manobra de reboque em direcção à saída do rio Tejo, esta operação levou algum tempo, até que, este terceiro rebocador também largou as amarras tendo o navio começado a navegar pelos seus próprios meios.

A minha permanência junto à baleeira continuava mas, desta vez chorava pensando “regressarei?”, estaria correcto o conceito de empenhar-me na defesa da Pátria e da Bandeira? Tinham razão os que desertaram, como fizeram alguns? Confuso, ao passar por debaixo da Ponte de Salazar (25 de Abril), o Bugio estava ali tão perto do navio e, em breve momentos passámos Cascais entrando no alto mar, imaginava os rostos das pessoas que gostavam de mim mas que, não puderam, por sugestão pessoal, de estar ali naquele dia a despedirem-se.

Foi um momento angustiante, inesquecível carregado de dúvidas e incertezas, situações que só a juventude ajudou a superar.

 

 

Lisboa / Luanda

 

Por: Ex-Furriel Miliciano

Ramiro Daniel Pedrosa Viegas

 

Embarcámos a 18 de Fevereiro de 1970 num navio da Companhia Colonial de Navegação “UÍGE” de seu nome. Quando o navio começou a navegar em direcção ao atlântico em direcção de Luanda, era hora do almoço, enquanto a manobra deddestracar o navio aos cais se efectuava, permaneci junto a uma das baleeiras (barcos de salvamento) ponto previligiado par ter um enquadramento de toda situação angustiante em que aquelas famílias e militares se encontravam a viver naquela hora.

Dado que a hora de almoço se estava a aproximar, desci de junto da baleeira, dirigi-me para a sala de refeições do navio destinado aos oficiais e sargentos. Recordo-me do mau estar que me causava o cheiro da cera dos corredores, que nos conduziam à sala de refeições que ficava num piso inferior ao convés e, do cheiro da comida. Foi a minha primeira grande viagem de barco, com os correspondentes reflexos originados pelo enjoo. O inalar destes dois cheiros para mim era agoniante pois, eu nunca fui grande adepto de andar de barco, não tinha nenhuma vocação para marinheiro mas, nos catorze dias, que foi o tempo que levámos de Lisboa até Luanda até, marinheiro fui obrigado a ser. Apesar da indisposição que os cheiros me provocavam ainda consegui almoçar e jantar no primeiro dia.

                                                                              NA SALA DE REFEIÇÕES DO NAVIO UIGE

 

 

                                        Da esqudª para a dirtª-Furriéis: Licínio Freitas - João Brígida - Joaquim Pereira e Ramiro Viegas

Após o almoço, durante a tarde do primeiro dia de navegação, tive a curiosidade de ir verificar as condições em que os soldados seguiam viagem, constatei a desumanidade em que estes ali foram colocados, amontoados, as refeições destes era ração de combate, eram mesmo “Carne para Canhão”. No meu espírito instalava-se um mau estar um misto de revolta, sofrimento e, ainda estávamos no início de uma viagem cujo retorno era desconhecido no seu dia e na sua forma.

No segundo dia de viagem, recordo que tentei levantar-me e dirigir-me a sala de refeições quer, para tomar o pequeno almoço, almoço e jantar mas, os cheiros da cera da comida provocavam-me vómitos, vinha num corredor para a sala de refeições, descia as escadas em direcção a esta mas, de seguida subia as escadas do outro lado seguia o corredor e dirigi-me para o camarote onde permaneci os catorze dias de viagem deitado, alimentando-me de fruta que tinha levado de casa.  

 

Ao largo da Guiné ainda me levantei e vi pela vigia do camarote um grupo de golfinhos que percorriam o oceano ao lado do navio.

Enquanto permanecia em plena viagem no navio deitado no camarote, através de outros camaradas ia tendo conhecimento de algumas novidades de situações que ocorriam no navio. Lembro-me com muita frequência, quando me disseram que o furriel Manuel “Rodinhas” porque era da manutenção, todas as noites tocava viola e cantava no porão onde os soldados se encontravam e, um dia resolveu tocar e cantar a canção do cantor “António Freire” - Pedra filosofal. Disseram que foi espectacular como a canção ecoou pelo navio, naquela noite serena e silenciosa em alto mar com todos os que assistiam a acompanhar cantando em uníssono. Perante tal espectáculo, entra pelo porão o comandante do batalhão, proibindo o furriel de cantar aquela canção retirando a guitarra, proibindo este que continuasse com aquela mui nobre diversão. Era efectivamente o primeiro acto carregado de significado político, que o comandante do batalhão até aquele momento tinha assumido com clareza.

 

No dia 01 de Março de 1970, eis que o “UIGE” chega à baía de Luanda, capital da Região Militar de Angola, para onde o nosso Batalhão tinha sido mobilizado. Desembarcámos no porto de Luanda, tendo sido colocados, como se de mercadoria se tratasse, num comboio de mercadorias com destino ao “GRAFANIL” Centro de concentração de todas as unidades em movimento de e para qualquer ponto da Região Militar de Angola. Não tínhamos conhecimento concreto para que zona de intervenção iríamos ser destacados contudo, falava-se que na primeira fase, nos primeiros doze meses iríamos para Ambriz e Ambrizete depois, logo se saberia onde terminaríamos a segunda fase dos restantes doze meses pois, em princípio a comissão seria de vinte e quatro meses, dividida em dois períodos de doze meses.

A manobra de atracagem foi efectuada com normalidade, eu estava expectante quanto ao meu comportamento físico quando me levantasse para sair do navio, seria igual ao que vivi, sempre que fui às Berlengas? Que parecia um tontinho enjoado e sem saber onde colocava os pés!!

Após terminada a amaragem do navio ao cais, foi dada ordem para sairmos deste. Chegado ao convés, senti aquele cheiro de África diferente, encontrava-se uma tarde bastante quente afinal, aquele medo da sensação do chão fugir após tantos dias deitado no beliche do camarote do navio, não causaram quaisquer perturbações físicas.

 

A C.C.S.,permaneceu em Luanda ainda nove dias, neste período permitiu-nos, com programação militar, que visitássemos as fábricas de cerveja “NUCA” e “NOCAL” onde nos foram servidos, para além da visita ao sector produtivo das fábricas umas boas cervejas frescas pois, assim indicava a temperatura, acompanhado com aperitivos nunca antes saboreados como caju, pistachos. Apesar do Grafanil se encontrar relativamente distante de Luanda, no tempo de lazer, havia a possibilidade de sairmos deste aquartelamento e, percorrer toda aquela extensa estrada, vislumbrando as precárias condições em que os naturais viviam. Apesar destas incongruências, Luanda eram uma cidade esplendorosa, a visita à bela avenida de Luanda com, as esplanadas espalhadas pelo centro de Luanda e pela marginal, a ida à praia de Luanda que, tinha uma particularidade interessante pois, de um lado era o mar calmo da baía do outro, o mar agitado do atlântico. O ambiente em Luanda era fantástico as suas esplanadas onde, a baixo custo se comia camarão e se bebiam umas cervejas, possibilitando também a circulação pelo belo bairro da Bela Vista, onde se encontravam a residir bastantes portugueses ligados à pesca e, para aqueles que gostavam de dançar, podiam ai, aos fins de semana usufruir de um ambiente onde, frequentemente decorriam bailaricos.

 

Nestes nove dias, tivemos a oportunidade de visitar as  fábricas de cerveja “NUCA” e “NOCAL” onde nos foram servidos com essa boa cerveja aperitivos nunca antes saboreados como caju….., a bela Avenida de Luanda com a baía esplendorosa a seus pés, a praia de Luanda que tinha uma particularidade interessante pois, de um lado era o mar calmo da baía do outro, o mar agitado do atlântico. O ambiente em Luanda era fantástico as suas esplanadas onde, a baixo custo se comia camarão e se bebiam umas cervejas, possibilitando também a circulação pelo belo bairro da Bela Vista, onde se encontravam a residir alguns nossos conterrâneos o Senhor Manuel Salsinha esposa e filha entre outros alguns armadores da pesca (Proprietários de embarcações de pesca) e outros portugueses ligados à pesca, para aqueles que gostavam de dançar, podiam usufruir de um ambiente onde frequentemente decorriam bailaricos.

 

Enquanto permanecemos em Luanda, tivemos a oportunidade de conhecer a Cidade bem como usufruir das praias que a cidade tinha.

 

   Num momento de laser, na praia situada na ponta da baía de Luanda os Furrieis

         Ramiro Viegas e Henrique Malheiros. Ao fundo vislumbra-se Luanda

 

 A praia, apesar da areia ser completamente diferente da nossa areia da praia de Peniche de Cima, do Molho Leste, da Baía do Porto de pesca, da Consolação, do Baleal e entre outras tantas praias que Peniche tem, esta também tinha uma areia fina mas escura, a água essa sim no interior da baía de Luanda era temperada mas, do outro lado da praia já no oceano atlântico já a sua temperatura era mais baixa.

 

A permanência em Luanda foi um período importante de adaptação às temperaturas ambientais, ao modo vivendo das gentes multiculturais que viviam naquela bela cidade quer, pelos convívios que existiam em diversos locais da cidade, até o cinema tinha um ambiente completamente diferente do que tínhamos na metrópole.

 

 

Luanda / Cabinda / Belize

 

Por: Ex-Furriel Miliciano

Ramiro Daniel Pedrosa Viegas

 

A 09 de Março, com destino ao enclave de Cabinda, saiu do Grafanil, numa primeira fase a C.C.S., em coluna motorizada, em direcção ao porto de Luanda, para depois entrarmos numa barcaça da Marinha de Guerra Portuguesa, “ARIETE” que nos levou, num trajecto de doze horas em alto mar junto à costa de Angola rumo a norte, até ao porto da cidade de Cabinda.

 

    O Furriel Viegas num ponto estratégico do “ARIETE” para não enjoar na viagem

 

  

Aqui chegados ao porto de Cabinda, cruzámo-nos com os outros camaradas do B.CAÇ. 2871, que iríamos render no “Belize” vila entranhada na extensa mata do Maiombe. Nesta Companhia cuja comissão militar iria terminar na zona de Ambriz e Ambrizete, encontrei alguns camaradas do Concelho de Peniche.

Cumpridas as formalizações burocráticas da recepção do equipamento móvel, já era meio dia, altura de comer a ração de combate que nos foi distribuída em Luanda antes da partida. Após a refeição subimos todos para os Unimogues. Assim que subi para o Unimoge, a minha primeira preocupação foi sentar-me no meio dos soldados (Na madeira, como designávamos os bancos da viatura) e tirar qualquer sinal que me identificasse como graduado, alguns soldados interrogaram-me por eu tomar aquela atitude, esclarecdos sobre quais eram as minhas preocupações a partir daquele momento pois, todos os cuidados eram poucos e o mais pequeno pormenor podia vir a ser fatal, compreenderam a minha atitude que, apesar das constantes repreensões dadas pelo Comandante do Batalhão a mantive sempre, exceptuando quando me deslocava, à cidade de Cabinda. Apesar de nos terem informado que os 200 km que iríamos percorrer entre a cidade de Cabinda e o Dinge, a estrada ser toda alcatroada e de segurança, a vigilância e atenção era redobrada pois, tínhamos acabado de entrar num território de guerra apesar, das informações recolhidas, nos ter sido garantido, a partir de que zona então, sim devíamos estar preparados para qualquer eventual ataque do inimigo.

Neste trajecto entre Cabinda e o Dinge, passámos por uma aldeia, (de condomínio fechado) pois só os Americanos e alguns quadros da empresa que explorava o petróleo ao largo de Cabinda ali viviam, em casas onde se destacavam os equipamentos de ar condicionado, todo o piso era verdejante, o silêncio era de cortar à faca cada um de nós carregava no seu semblante uma enormidade de dúvidas sobre o que iria encontrar contudo, o silêncio sufocava de tal modo que não permitia qualquer troca de palavras, a atenção no trajecto era enorme os olhares procuravam até onde desse o descortinar de qualquer movimento estranho, começava ali naquele momento a odisseia que nenhum de nós de certeza queria viver. A obrigação, imposta pelo regime colocava-nos numa situação com uma grande interrogação, “como terminaria a comissão?” saíria dali VIVO ou MORTO? Era a interrogação pessoal mas que, de certeza era comum a todos os camaradas que naquele momento seguiam em caravana espaçada, conforme determinavam as regras naquelas circunstâncias pois, a guerra era um facto, não era um sonho ou uma brincadeira.

 

Percorridos uma centena de kilómetros, chegámos ao Dinge, ponto de paragem obrigatória e planeada pois, era o local onde nos aguardava dois pelotões, do Batalhão que íamos render e que, nos iriam conduzir até ao aquartelamento de destino “Belize”. No Dinge encontrei dois camaradas de Peniche, o “Manuel ICA” e o José Capelas, apesar da preocupação, foi com bastante alegria aquele encontro, pois a zona onde se encontravam era calma não havia problemas de qualquer natureza e tudo decorria normalmente, por vezes lá iam fazer uma escolta às viaturas civis que transportavam os mantimentos para o Batalhão sediado no Belize, na mata do Maiombe e também uma Companhia que se encontrava no Chimbete.

Estes momentos permitiram retemperar as energias libertando um pouco a tensão daqueles 200 km. A partir do Dinge, a estrada alcatroada terminou dando lugar à picada, piso desconhecido, cheios de buracos e ressaltos das raízes das árvores, de árvores que nos batiam no rosto, tínhamos entrado nas entranhas da mata do Maiombe, só se via a viatura que seguia à nossa frente, para um lado e para o o outro era só árvores e mato não se via mais a meio metro do banco onde nos encontrávamos sentados na viatura e a mata, o coração volta a bater, as dúvidas ressaltam de novo a atenção é redobrada, o silêncio é estrangulante cada vez é maior à medida que a noite começa a surgir. Foi uma eternidade até chegarmos à tão desejada Vila do Belize.

 

O Batalhão levou dezanove dias até se encontrar totalmente instalado nos respectivos aquartelamen- tos destinados a cada uma das Companhias que o constituíam.

A C.C.S. ficou instalada no aquartelamento situado na Vila do Belize.

A C.CAÇ. 2655, o lema desta Companhia era ”Dianas Negros” foi colocada no ponto mais a norte do enclave de Cabinda, cada vez mais no interior da mata do Maiombe, na Vila de “Sanga Planície”, tendo no seu ponto mais alto, Miconge situado na fronteiras do Congo Brazza, encontrando-se integrado um pelotão de morteiros. O trajecto para chegar a este aquartelamento é inexplicável, face às dificuldades quer da orografia do terreno quer ao estado do piso.

A C.CAÇ 2656, o lema da Companhia "Honra e Glória", foi colocada num aquartelamento situado numa Povoação chamada “Chimbete”, os acessos a este quartel, eram feitos através de uma picada pantanosa, sinuosa e íngreme, era no mínimo tenebroso pois, para além do factor das características da mata densa também obrigatoriamente se tinha que passar por diversos troços de pântano.

Esta Companhia logo no início da missão foi castigada com ataques constantes quer no quartel quer em emboscadas quando se deslocavam em movimentos de vigilância. Não me recordo mas, as baixas desta Companhia nos primeiros meses foram bastante elevadas ao ponto, da moral das tropas se encontrar destruída, chegando ao ponto de toda a Companhis se encontrar de baixa médica. Por esse facto, a mesma foi rendida por outra Companhia, deslocando-se então para junto da CCS no Belize.

A C.CAÇ 2657, o lema desta Companhia era "Firmes e Leais", foi colocada num ponto mais a norte do Belize, numa Vila chamada “Caio Guembo” bem encaixada no âmago da mata do Maiombe. A área de intervenção da Companhia 2657, tinha os limites até à fronteira do Congo Brazza e o Congo do Kinshasa. O trajecto para chegar a este aquartelamento era indiscritível, como era possível termos tanta resistência para vencer todas aquelas dificuldades quer da orografia do terreno quer do estado do piso.

 

 

O TEMPO DE COMISSÃO

 

Por: Ex-Furriel Miliciano

Ramiro Daniel Pedrosa Viegas

 

Normalmente todos os Batalhões permaneciam em Comissão durante um período de 24 meses (Dois anos). Este período era estratégicamente definido em dois períodos de 12 meses cada, sendo em princípio um dos períodos numa zona operacional mais desfavorável quer climatéricamente quer de guerrrilha.

 

Os Batalhões que antecederam o Batalhão 2904 em Cabinda, sempre permaneceram nesta zona operacional doze meses e, os restantes doze meses eram deslocados de Cabinda para Angola mais propriamente para a zona operacional de Ambriz e Ambrizete. Foi assim com o Batalhão 2871 que fomos render em Cabinda zona operacional do Belize.

 

Esta zona operacional, para além dos aspectos militares e de guerrilha era sobretudo uma zona cuja saúde pública nomeadamente aos militares para ali destacados era, altamente perigosa pelas doenças que surgiam nomeadamente “Paludismo” que provocou a morte a alguns dos nossos camaradas, a “filária” que provocou distúrbios a nível do fígado dos camaradas que a contrairam, enfim era uma zona problemática e, por esses factores, estratégicamente os Batalhões faziam uma rotação periódica.

 

Contudo, o Comandante do Batalhão de Caçadores 2904, demonstrando mais uma vez um desrespeito pelo ser humano, pelos Comandos das Companhias e de todos os jovens que integravam estas oferecendo ao Comando Militar da Região, a permanência deste Batalhão na zona operacional de Cabinda pelo período da Comissão de Serviço 24 meses (Dois anos).

 

Com esta sua atitude prepotente não, permitiu que o Batalhão, permanecesse, 12 (doze meses) em zona altamente operacional e terminasse os restantes doze meses de Comissão na zona operacional de Ambriz e Ambrizete, como era estratégia anterior, como também, contribuiu para a desmoralização das tropas com, para o agravar do estado da saúde de muitos dos jovens que se encontravam subordinados aos seus caprichos.

 

As recordações desse tempo, estão cada vez mais vivas na minha mente, todos os dias me recordo de tanta injustiça, incoenrência e falta de respeito pelo ser humano contudo, também sei que todos os elementos que constituiam as Companhias icluindo os seus Comandos procuraram sempre manter a moral das tropas em cima pois, só assim conseguiríamos vencer. Com as minhas limitações de graduado, procurei sempre tentar encontar a melhor forma de ultrapassar as situações que iam surgindo mas, muito caro me custou esta minha ousadia. Não estou nada arrenpendido do que fiz e reclamei na hora e no momento certo.